Seremos em breve a sexta economia do mundo. Mas estamos em 84º lugar no
índice internacional que mede o desenvolvimento humano de 187 países. Parece
esquizofrênico, mas assim é. O ranking do IDH das Nações Unidas desmascara algo
que a gente já sabe, mas muitos insistem em não enxergar.
Bolsas do governo reduzem a miséria a curto prazo, ajudam a eleger
presidentes, dão a milhões de pobres acesso a geladeira, televisão, fogão e
carro. Elogiável. Mas esmolas não dão dignidade a longo prazo, não mudam o
futuro do Brasil. Educação e saúde sim. E até hoje não são prioridades. Por isso
a renda continua tão desigual. Por isso temos 19 “hermanos” da América Latina à
nossa frente.
Isso não é um problema só do PT nem só de Lula ou Dilma. O Brasil fechou os
olhos historicamente à desigualdade. Elegeu um metalúrgico na esperança de virar
o jogo. Sonhávamos com avanços sociais muito maiores. Nós, contribuintes, que já
pagamos impostos escorchantes, ajudamos Lula a transferir um pouquinho de renda
para miseráveis que ganham de acordo com o número de filhos. Isso não parece
receita de vida sustentável.
Aumentamos o número de crianças e adolescentes na escola, sim. Os anos de
escolaridade também. Falta muito. Mas já descobrimos que sete anos de escola no
Brasil não ensinam o mesmo que na Argentina ou no Chile. Não garantem que a
criança aprenda a ler e a escrever direito ou a fazer contas simples de
matemática.
É falta de educação mandar Lula tratar o câncer no SUS. Qualquer pessoa não
comum evita as filas, o descaso e o despreparo da saúde pública no Brasil. O
debate ferveu. Na internet, antipetistas destilaram ódio. A rede de proteção a
Lula foi acionada. O ex-presidente não é o único a sofrer com a falta de
compostura de internautas. Todo mundo sabe – até o Chico Buarque – que a
blogosfera é fértil em ofensas anônimas de todo tipo. Lula não é um coitadinho
especial. A difamação virtual é um hábito covarde e aleatório. Quem fez campanha
contra Lula num momento tão vulnerável demonstra baixo IDH.
Também é falta de IDH um presidente afirmar que “o Brasil não está longe de
atingir a perfeição no tratamento de saúde”. Foi o que Lula fez, numa de suas
gafes verborrágicas, em 2006. Pode parecer provocação para os que morrem
buscando um leito nas emergências de hospitais. Pode parecer insensibilidade
para quem mofa deitado no chão, nos corredores de hospitais. Esperam por meses
uma cirurgia. Com fraturas ou infecções. Não há maca, não há médicos, não há
vaga, não há vergonha na cara de um país que despreza e mata seus velhos por
negligência. Eles têm a mesma idade do ex-presidente Lula, o pai dos pobres.
Lula poderia ter dito apenas que, em seu governo, a Saúde melhorou – e não
estaria mentindo. Talvez tivesse sido poupado da fúria virtual.
Também é falta de IDH a quantidade de brasileiros sem banheiro: 13 milhões,
ou 7% da população. Esse é outro ranking, da Organização Mundial da Saúde, e o
país ocupa um insultante nono lugar. Segundo o IBGE, menos da metade dos
brasileiros (45%) tem rede de esgotos e só 38% recebem algum tipo de tratamento.
Penso o seguinte: de que adianta ter televisão numa casa com crianças se,
embaixo da janela ou junto à porta, passa uma vala com lixo, esgoto a céu aberto
e uma multidão de ratazanas?
Também é falta de IDH o Brasil não conseguir aplicar um Enem sem fraudes ou
anulações. Estudantes no Ceará – o foco do vazamento de 13 questões – foram às
ruas com nariz de palhaço para dizer que o Enem é um circo. Alunos de outros
Estados ameaçam entrar na Justiça contra a anulação. Não seria falta de IDH
insistir no ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato do PT a
prefeito de São Paulo? Além de não conseguir gerenciar direito uma prova do
Enem, Haddad não sabe a diferença entre Itaim Bibi, bairro de classe média alta
da cidade, e o Itaim Paulista, na Zona Leste. Precisa urgente de um mapa e de
aulas da Marta Suplicy.
Também é falta de IDH a exibição bizarra de cinismo do PCdoB e de Dilma na
troca de ministros do Esporte. Ninguém entendeu nada. Orlando Silva, acusado de
fraudes milionárias em convênios irregulares com ONGs, ganha poemas, discursos e
flores? O novo ministro, Aldo Rebelo – chamado de Rabelo por Dilma –, diz que
quer fazer uma “gestão parecida” com a do camarada destituído? Pelé e Ricardo
Teixeira vão à posse para umas embaixadinhas? Fotos mostram Silva e Sarney lado
a lado, sorrindo e aplaudindo. Olha, corrupção na política existe em todos os
países. Mas esse cinismo todo é dose.
É muita falta de IDH para o meu gosto.
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