quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Pacientes do SUS sofrem com superlotação

Raul Spinassé/Agência A TARDE
No HGE, a procura frequentemente supera oferta de vagas para cirurgias e outros procedimentos
No HGE, a procura frequentemente supera oferta de vagas para cirurgias e outros procedimentos
Com uma fratura exposta em uma das mãos causada por um acidente de moto, Gilberto Oliveira da Fonseca Filho esperou por quatro dias no Hospital Geral do Estado (HGE) até conseguir ser operado, nessa quarta-feira. “Mas tem colegas dele de enfermaria que não tiveram a mesma sorte”, revela o primo do rapaz, Rogério Oliveira, 32.
Este foi um dos flagrantes registrados por A TARDE nas duas últimas semanas. Cenas presenciadas frequentemente por usuários do SUS.
A superlotação no HGE é confirmada por funcionários do setor médico, que relatam o efeito em cadeia da falta de leitos: enfermarias cheias pela falta de vagas para cirurgia, e leitos cirúrgicos ocupados por pacientes que não conseguem internação hospitalar. “Aqui, centro cirúrgico vira enfermaria”, diz um funcionário da enfermaria.
No Hospital Ernesto Simões Filho, na Caixa D’Água, o acompanhante do paciente Otávio Alves Lima, 90 anos, Gildásio Dantas, revelou à reportagem que a unidade estava abarrotada de macas nos corredores e sob forte calor, com os equipamentos de ar condicionado quebrados. “Dia de domingo é ainda pior, com a chegada de ambulâncias do interior”, entende.
Mais leitos - O Diretor de Gestão da Rede Própria da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), Paulo Barbosa, argumenta que nos últimos quatro anos houve uma ampliação de 90% no número de leitos de UTI no estado, alcançando a marca de 458 leitos em 2010, além de terem sido criados outros 1200 leitos hospitalares.
No entanto, a assessoria de imprensa da Sesab não revelou o número atual de pacientes à espera de um leito de UTI, apesar de a Central de Regulação da Sesab possuir esta informação.
Barbosa aponta ainda que a superlotação nos hospitais públicos é causada pela deficiência no atendimento na chamada rede básica de Saúde, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para casos de menor complexidade, que poderiam resolver até 70% dos casos.
“É preciso compreender que o setor de Urgência/Emergência funciona como um termômetro do sistema de saúde. Se a atenção básica não funciona bem, o usuário do SUS vê na urgência uma via para solucionar as suas demandas”, diz.

A coordenadora de Atenção à Saúde da secretaria municipal da Saúde, Maricélia Macêdo, rebate a avaliação de Barbosa, indicando uma pesquisa recente da secretaria que aponta que apenas 11% dos pacientes atendidos nas emergências hospitalares da capital foram encaminhados pela rede de atenção básica da prefeitura. “Isso mostra que os outros 89% dos casos foram resolvidos pela rede básica”, conclui.
Para Maricélia, uma das causas da superlotação nos hospitais está no número elevado de pacientes do interior atendidos na capital, cerca de 94% dos pacientes do estado de média e alta complexidade, que são de maior custo e tecnologia.

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