Conforme prometemos em nosso último post, segue
mais um excelente artigo do economista Luciano D'Agostini, onde ele comprova, a
partir de informações e dados incontestáveis, que a bolha imobiliária já está
formada, desmentindo, de forma categórica, a falácia da revista Exame da última
semana.
A Bolha Imobiliária no Brasil está mais do que formada e entramos na fase Paradigma de Preços
Uma bolha monetária
refere-se à falsa replicação de capitais sobre capitais através do
sistema financeiro gerando, ao
longo do tempo, inflação.
De maneira simples, uma bolha monetária ocorre da
seguinte maneira: o Banco A empresta R$ 100,00 à um agente econômico B
(famílias, indústrias, construtoras, países) com um adicional de juros. Logo o
Banco A será credor de R$100,00 mais o juros acordados. O agente B, que se
alavancou emprestando do Banco A, empresta ao agente C, embutindo o custo do
capital no preço final do produto e ainda com a facilidade do crédito, ao longo
do tempo, adiciona uma taxa de juros maior do que o empréstimo contraído
inicialmente. Aqui, A e B são credores de R$100,00 (cada) mais os juros
acordados, com os juros de A menor que os juros de B. Temos R$200,00 gerados
para liquidação. O agente C empresta para o agente D os mesmíssimos R$ 100,00 a
uma taxa de juros maior que o agente B, que concedeu a oferta de dinheiro. Em
algum dos estágios, parte do capital financeirizado pelos juros sai do circuito
estritamente financeiro e entra de modo inflado no capital produtivo (p.e. na
“arte de edificar prédios”).
Todos os agentes são credores do mesmo capital. O
problema reside no circuito moeda-juros que tem como resultado virtual mais
moeda e, por fim, mais inflação. Resta saber, numa economia de
crédito com restrição orçamentária (p.e: familiar) e sem
formação de poupança, qual(is) será(ão) o(s) setor(es) contaminado(s).
Formam-se fenômenos hiper-inflacionários e posteriormente, pela economia de
crédito, fenômenos hiper-deflacionários de baixa, média ou alta magnitude. No
exemplo, existe a “geração de moeda real” virtual a partir de R$ 100,00
verdadeiramente existentes. No contexto de crédito, o empréstimo
sobre-posto ou chamado de alavancado, caso mal estruturado em qualquer estágio
do processo, do agente A para o B, ou do B para o C, pode ser classificado
como emprestar aos agentes econômicos que não tem condições
técnicas para pagar em algum momento. Inicialmente, essa situação leva à
sensação de crescimento patrimonial, aumentando o consumo em relação à renda
realmente recebida (caso Brasil) e comprometendo maiores partes patrimoniais dos
credores em investimento de risco (caso Brasil com os imóveis), sem
garantia de liquidez, acarretando em uma espécie de inflação
que chamamos de “inflação especulativa” ou em teoria monetária “Bolha de
Preços”. O principal problema é quando algum agente do sistema, B, C ou
D, inseridos nessa cadeia necessitam liquidar o empréstimo e/ou outros membros
abaixo do seu crédito piramidal invertida não pagam o
empréstimo.
Após anos de estudos, escrevi um texto simples, ainda
em setembro/outubro de 2010 sem muita formalização numérica, afirmando que ”A bolha imobiliária no Brasil está formada“, na Revista
Economia & Tecnologia da UFPR. Na ocasião, além de não ser publicado em
edições anteriores, fora taxado de “louco” ou de “sem noção”.
Anos mais tarde, em 2012, afirmo aqui com mais
tranquilidade, pelos indicadores monitorados ao longo do tempo que
2013/2014/2015 as probabilidades de estouro de bolha de preços (queda) no setor
imobiliário de imóveis residenciais, comerciais e terrenos são grandes. A queda,
na minha opinião, será de média magnitude, entre 15 a 35%.
Pois bem, resolvemos analisar mais indicadores no
intuito de prever nos próximos escritos um possível estouro (ou não) da bolha
imobiliária no Brasil (refiro-me ao quarto estágio), a saber: o aumento da renda
per capta, o aumento dos preços dos imóveis e o aumento da renda per capta sobre
o preço dos imóveis. O exercício consiste em comparar o Brasil com indicadores
antecedentes da bolha imobiliária americana.
Inicialmente, verificamos qual foi a taxa de
crescimento da renda per capta do Brasil em relação à taxa de crescimento da
renda per capta nos Estados Unidos:
Fonte: Ipeadata, IMF.
A renda per capta nominal no Brasil em moeda local
(real), ao longo de 11 anos, aumentou 2,8 vezes em relação a renda per
capta de 2000 e estagnou de 2010 para 2011. Nos Estados Unidos, no mesmo
período, aumentou 1,4 vezes (em dólares), com estagnação em 2007 (ocasião do
estouro da bolha imobiliária) e uma retomada em meados de 2009.
Agora, vejamos o gráfico da evolução dos preços dos
imóveis no Brasil e nos Estados Unidos, ao longo destes mesmos 11 anos. Tomamos
como Proxys o Índice Shiller 20 dos preços dos imóveis nos Estados
Unidos e no Brasil, pela falta de estatística dos imóveis residenciais em 10
anos, tomamos o Índice Geral do Mercado Imobiliário Comercial- IGMI-C,
publicado pela FGV/Bovespa.
O estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos
ocorreu em setembro de 2007. No Brasil vivemos em 2011 ainda um estágio de
expansão de preços. Em especial, a partir do estouro da bolha imobiliária
americana, os preços dos imóveis no Brasil, entre 2008-2011 aumentam à taxas de
crescimento bem maiores do que no período 2000-2007. É o terceiro estágio da
bolha de 4 possíveis. Lembrando ainda que nos Estados Unidos os preços dos
imóveis cresceram mais rapidamente a partir de 2004 (estourou em 2007) e no
Brasil o preço cresceu mais rapidamente a partir de 2008 (estamos no início de
2012).
Fonte: FED, Bovespa.
Como ilustração insiro abaixo um gráfico teórico,
encontrado rotineiramente em livros de economia monetária contextualizando os 4
estágios de uma bolha de preços de ativos.
No Brasil, entre 2000-2008, pelo crescimento da renda
per capta acima do crescimento do preço dos imóveis, a relação renda per capta
sobre o preço dos imóveis aumentou, indicando a potencialidade do aumento de
preços dos imóveis pelo fator renda (p.e. aumento da massa salarial). A partir
de 2008 o indicador iniciou um processo de inversão, e a força de venda dos
imóveis pela renda per capta do Brasil perdeu força. Certo, então que o
indicador de “crédito” e não de renda per capta foi o principal
causador da hiper-inflação imobiliária entre 2008-2011. Nos Estados Unidos a
relação renda per capta sobre preço dos imóveis também indicavam desde meados de
2000 que a potencialidade do aumento dos preços dos imóveis não se daria pela
parcial da renda. De 2000 a 2007, a taxa de crescimento da renda per capta
americana aumentou, assim como a inflação dos imóveis. Porém, como a taxa de
crescimento da renda aumentou menos do que o aumento dos preços dos imóveis, a
relação caiu. Portanto, os preços dos imóveis nos Estados Unidos inflaram devido
a forte expansão do “crédito” entre 2000 a 2006.
Fonte: elaboração Inva Capital a partir de dados do
IMF, FED, Bovespa.
Como o preço dos imóveis nos Estados Unidos caiu muito
pós 2007 e a renda per capta média aumentou levemente, a relação renda per capta
dos EUA está novamente, em 2011, quase idêntico ao ano de 2000, onde o o
primeiro estágio da bolha americana se formava. Portanto, para aqueles que
querem comprar imóveis nos Estados Unidos agora na esperança de ganhar dinheiro
entre o preço de compra versus o preço de venda, terá de esperar uma
nova onda de crédito no setor imobiliário americano para
auferir excelentes lucros, algo que não ocorrerá em 2012 e nem em 2013 pela
crise financeira mundial. E o mesmo ocorrerá no Brasil.
Portanto, comprar imóveis hoje para revender no prazo de 2 a 3
anos, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, não é mais um
excelente negócio como aqueles que fizeram isso em 2001/2006 nos Estados Unidos
ou aqueles que fizeram isso no Brasil em 2007/2008 para revender até 2010/2011.
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