quinta-feira, 29 de março de 2012

Salvador chega aos 463 anos ( Parabéns pelo quê?)

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Parabéns pelo quê?

Salvador chega aos 463 anos sem motivo algum para comemorar. Violência, trânsito caótico, degradação e abandono compõem o cenário de uma cidade que há muito não sabe o que é festejar

29 do 03 de 2012 às 00:31
Matheus Morais_ Bahia 247
Nesta quinta-feira (29), a cidade onde "tudo mundo é de Oxum", "a terra de Senhor do Bonfim", onde "filho chora e mãe não vê" e nem macumba decide campeonato baiano, São Salvador da Bahia, completa 463 anos com jeito e corpinho de 985, acabada, arrasada e arrastada pelo tempo. Nada de bolo, guaraná, muito menos doces e comemorações para a velha senhora, idosa esquecida por seus governantes, metrópole do trânsito caótico, das praias sujas, terra do lixo, da violência e das promessas eleitorais. E cadê o metrô de seis quilômetros, seu prefeito? Cidade da Bahia que não tem nada a comemorar, do racismo na capital mais negra fora da África. Parabéns pra quem, parabéns pelo quê?
O metrô calça curta
Antes eram os burros de carga, as carroças, os bondes, veio o Elevador Lacerda, as marinetes, os ônibus e depois prometeram o metrô. Primeiro ele percorreria 12 quilômetros, lá no começo, em 1999, na gestão do então prefeito Antônio Imbassahy (PSDB), que deixou  pra João Henrique concluir (PP), a joça cresceu e virou elefante branco, bicho caríssimo. Agora, 12 anos depois, a cidade cobra a conta que segundo cálculo do Ministério Público Federal (MPF) já passa de RS 1 bilhão. É barril ou não é?
O caminho se encurtou: o que antes eram 12 se transformou em seis quilômetros e meio de extensão, o rascunho de metrô passou por testes do Acesso Norte até a Estação da Lapa, com promessa do custo de passagem a R$ 2,50. Tudo isso em dezembro de 2011, quando o prefeito também prometeu que até o segundo semestre de 2012 o metrô já estaria rodando cheinho de passageiros. Estamos no aguardo, Vossa Excelência... Já até apelidaram o meio de transporte de "metrô calça curta", mas isso não é novidade pra senhor ninguém.


Comemorar mesmo só as piadas que fazem Brasil afora com a situação vexatória do tal metrô: Salvador, maior capital do Nordeste e terceira maior do país, cidade com quase três milhões de habitantes não tem metrô e se tem é calça curta. Ah, e não é subterrâneo, viu? Durma com um barulho desses...
Trânsito parado
Falando em metrô, meios de transportes e congêneres, é impossível não falar do trânsito cada vez mais infernal da cidade tão cantada por Caymmi em versos, prosas e afins. Quem mora por aqui sabe bem que voltar pra casa a partir das 17h virou um verdadeiro teste pra cardíaco... Mas isso era antes, antigamente, no tempo que o horário de pico era o pior. Hoje a conversa é outra. Os engarrafamentos estão por aí a toda hora, em qualquer lugar. Quer saber o que é caos no trânsito? Venha a Salvador, minha nega! As avenidas Antônio Carlos Magalhães, Mário Leal Ferreira (Bonocô), Luiz Vianna Filho (Paralela) todas são um prato cheio.
Números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que até março de 2011, Salvador aumentou em 44, 8% o número de sua frota de automóveis. Os grandes corredores de tráfego da cidade já estão saturados, os ônibus a cada dia mais lotados, tudo isso somado a sinaleiras quebradas, alagamentos e acidentes, tornam o trânsito da capital uma verdadeira piada pronta. Falando em piada, os moradores da cidade até comemoram quando a Superintendência de Transporte e Trânsito de Salvador (Transalvador) entra em greve, dizem que o tráfego flui bem mais quando os agentes do órgão não estão pelas ruas. Maldade pura!
Pelô que dá e deixa
É, minha nega, se você vier a Salvador é bom mesmo dar uma passadinha no Pelourinho, assim como fez a equipe do Bahia 247 no final do ano passado. Lá, o turista pode comprovar por A + B o abandono do Centro Histórico da cidade. São ruas tomadas por lixo, marginais e usuários de crack por todos os lados, sem falar nos bares e restaurantes, sempre vazios. A insegurança impera nas ladeiras, nos becos, vielas, ali na Praça da Sé, no Largo Pedro Arcanjo e Praça Tereza Batista.
Seja alemão, paulista, carioca ou espanhol, turista nunca passa desapercebido no Pelô, tem sempre um pedinte ou um vendedor ambulante inconveniente para encher a paciência do visitante. Os passeios terão sempre um pagodão como som ambiente e o cheiro de urina estará quase sempre impregnado no ar.
Violência também se vê por aqui
Mas Salvador não vive apenas de engarrafamentos intermináveis. O cantinho de Jorge Amado também se abastece de violência diária, roubos, assaltos, sequestros e mortes. A cidade assiste ao crescimento dos roubos a ônibus aumentar de 974 para 1433 em um ano. Ao passo que o número de homicídios teve uma redução de 6,8%, as tentativas de homicídio passaram de 776 ocorrências em 2010 para 997 no ano passado.
Pra piorar a situação, a Polícia Militar da Bahia deflagrou greve no mês de fevereiro deste ano, um movimento que durou 12 dias e trouxe prejuízos incontáveis para a população: lojas saqueadas, assaltos e muitos homicídios na capital do acarajé, mais precisamente 180, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado. O clima de tensão vivido pela população soteropolitana às vésperas do carnaval serviu também para ratificar a fragilidade da segurança tanto na capital quanto no interior. O maior calo do prefeito João Henrique e do governador Jaques Wagner, sem sombra de qualquer dúvida.


Banho de sujeira
Quem sempre ouviu Dorival Caymmi cantar que era bom passar uma tarde em Itapuã, lá pelos idos de 1940, hoje já não tem a mesma sorte de desfrutar das belezas naturais do bairro boêmio. Atualmente, quase ninguém se arrisca a tomar um banho nas praias de Salvador que vivem entulhadas e cobertas de lixo, muito por falta de educação da população, justiça seja feita. O simples ato de jogar resíduos sólidos em via pública é um dos fatores que agravam problemas como o entupimento de canais de escoamento e a drenagem precária.
Na Ribeira, na Barra, em Ondina, em Itapuã, Amaralina ou em Stella Maris, as praias da capital fazem vergonha. Salvador conta com uma orla degradada, sem estrutura alguma, perde de goleada para as orlas de cidades menores do Nordeste como Maceió e Aracaju. Mergulhar em praias soteropolitanas é correr risco de se deparar com latas de cerveja, refrigerante, sacos plásticos e presentes para Iemanjá, a rainha do mar. Vai um colar de pérolas falsificado ou um vidro de alfazema dos mais baratinhos?
Ah, antes que esqueçamos, Salvador é uma cidade que não combina com fortes chuvas; aqui é assim: choveu, alagou, deslizou terra e travou o trânsito. Sem falar na população que vive nas encostas, todo ano é a mesma história – centenas de pessoas morrem vítimas dos deslizamentos de terra ou perdem suas casas, arrastadas pelas chuvas. São Pedro continua terminantemente proibido de atuar por essas bandas de cá...


É da conta de quem?
Não bastasse tudo que já foi explicitado durante a matéria, a cidade que abriga todos os orixás também tem um dos prefeitos mais mal avaliados do Brasil. Durante os quase oito anos de gestão de João Henrique, as águas rolaram, o lixo acumulou, a violência aumentou, a saúde piorou e a educação deseducou. O filho do senador João Durval Carneiro (PDT) trocou de secretariado, de partido, de mulher e de convicções, só não conseguiu mudar os rumos da capital e aprovar (por enquanto) as contas de sua gestão no ano de 2010. Mas, essa é uma questão que fica pra uma próxima matéria.
Fosse você Thomé de Souza, se reviraria ou não no túmulo? Deixa pra lá, melhor não meter os mortos nesta festa pobre que "os homens armaram pra nos convencer". ( Bahia 247 )

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