Sorria,
aqui é tudo alegria
(*) Carlos Brickmann
Se o caro leitor não puder almoçar seu arroz
com feijão, salada, bife e sobremesa, resolva o problema com uma folha de
alface, duas ervilhas e um grão de milho. Pode não ser satisfatório, mas o caro
leitor não deixou de almoçar. Se o caro leitor ganha muito pouco e está abaixo
da linha da pobreza, resolva o problema com as estatísticas do Governo Federal:
de acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidente Dilma
Rousseff, quem ganha mais de R$ 291 mensais
integra a classe média. Assim foi possível fazer com que 35 milhões
de brasileiros se alçassem à classe média nos dez anos de Governo petista.
É simples assim: uma pessoa não precisa ganhar
mais de dez reais por dia para entrar na classe média. Um casal que ganhe, em
conjunto, R$ 582 mensais será também de classe média.
Pronto: no Brasil, só é pobre quem quer.
Mas há limites para ser de classe média. Quem
ganhar a partir de R$ 1.019,10 por mês será de classe alta. A história de achar
que classe alta é coisa para Eike Batista está errada: neste país em que se
plantando tudo dá (especialmente notícias), até professor, mesmo ganhando o que
ganha, pertence à classe alta. O pessoal que tem recursos para comprar deputado
mensaleiro, dar carona de jatinho a quem toma decisões sobre concorrências,
fotografar a esposa usando sapatos de sola vermelha, esse nem chega a ter
classificação. Político corrupto, dos que trocam apoios por Ministérios, está
tão alto que a verdade se restabelece sozinha: este não tem classe, nem
categoria.
A classe média (de verdade) paga a conta.
Os autogolpistas
A manifestação de políticos governistas em
favor de José Dirceu tem alguns aspectos interessantíssimos a ressaltar:
1 – duas ausências importantes: a de Paulo
Maluf, que comanda o PP, partido integrante da base governista e celeiro de réus
do Mensalão, e a de Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo,
aliado de primeira hora de Maluf e Dirceu (que ingratidão, deixar de
manifestar-se em favor de seu guru!)
2 – Usa a lógica invertida: acusa o Supremo de
estar a serviço do golpe da oposição, quando oito em dez ministros foram
nomeados pelo Governo petista. E, se depender da oposição para cair, o PT sabe
que nunca mais sairá do Governo.
3 – Discrimina os réus do Mensalão conforme o
interesse partidário. Enquanto a arraia miúda era condenada, fez-se um
tonitruante silêncio. Na hora do julgamento dos peixes grandes, há até manifesto
com abaixo-assinado e tudo.
Punição exemplar
O deputado distrital Benício Tavares, acusado
pela Procuradoria Geral da República de corrupção passiva e lavagem de dinheiro
no Mensalão do DEM em Brasília, foi cassado pela Justiça por compra de votos e
perdeu os direitos políticos. Veja o caro leitor como o ex-Excelência foi
cruelmente punido: reassumiu o cargo de Técnico Legislativo no Senado, trabalha
na liderança do PTB com o senador Gim Argello e tem Regime Especial de
Frequência, sem precisar bater ponto. O salário fica por volta de R$ 16
mil.
Aqui se faz, aqui se é pago.
A culpa do eleitor
Que delícia! Bastou o candidato petista
Carlinhos Almeida consolidar sua ampla vantagem sobre o tucano Eduardo Blanco,
que tem o apoio do atual prefeito, para que a primeira-dama de São José dos
Campos, SP, abrisse fogo – mas não contra os adversários. Rosana Dalla Torre,
esposa do atual prefeito Eduardo Cury, do PSDB, alveja os eleitores, a quem
considera ingratos. “Estou indignada, triste e inconformada com essas pesquisas
eleitorais”, escreveu a primeira-dama em sua página no Facebook. “Como as
pessoas são ingratas e têm memória curta!” Na opinião de Rosana, o PSDB
transformou São José dos Campos num exemplo para o país, e os eleitores agora
querem jogar fora o que já foi feito.
Excelente ideia
Um projeto de emenda constitucional que merece
todo o apoio: proíbe que os Governos façam qualquer publicidade que não seja de
utilidade pública. O projeto, elaborado pelo deputado federal tucano Walter
Feldman, de São Paulo, já tem 186 assinaturas na Câmara, e com isso pode começar
a tramitar. Se aprovado, anúncios do tipo “fez estradas”, “construiu hospitais”,
promoção pessoal com o dinheiro público, com nosso dinheiro, vão desaparecer: só
entrará publicidade de campanhas de vacinação, ou educação no trânsito, coisas
desse tipo. Ótimo – até mesmo para a publicidade. Essa besteira de “eu fiz”, “eu
vou fazer”, além de falsa (quem faz é a administração), castra a criatividade.
Já cansou.
Tiririca, o bom
Os jornalistas do Congresso elegeram Tiririca,
do PR paulista, como um dos melhores parlamentares do país. Um erro: Tiririca
teve compostura, compareceu assiduamente às sessões, comportou-se com toda a
dignidade. Mas não se sabe até hoje, passados quase dois anos de sua posse, o
que é que pensa; nem os temas pelos quais mais se interessa são
conhecidos.
Podia ser pior. Mas melhor não é.
Falou e disse
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que o
Governo tem “cuidado especial” com a inflação.
É verdade: ela está crescendo que é uma
beleza.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor
de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista,
editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo
da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de
Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista
Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do
Jornal da Tarde.....
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