É espantoso o que leio numa reportagem da Folha.
Eis a evidência mais escancarada de que o chamado pensamento
politicamente correto é, na verdade, uma forma de censura. Qual é o
caso?
No Fórum
Criminal da Barra Funda, em São Paulo, há um quadro, de autor
desconhecido, em que um negro aparece açoitando outro, no tronco, com
uma multidão à volta. Pois não é que a Comissão de Igualdade Racial da
Ordem dos Advogados do Brasil encaminhou um ofício cobrando que a obra
seja retirada da galeria?
Segundo a
presidente do grupo, Carmen Dora de Freitas Ferreira, o quadro reforça
“o estereótipo e o preconceito enrustidos em muitas pessoas, que ainda
nos dias atuais, têm a ousadia de se referir ao negro ou à negra
afirmando ‘vou te colocar no tronco’”.
Não, dona
Dora! A senhora está errada! Está estupidamente errada! Aquela obra de
arte que está lá retrata uma parte da história brasileira. O que a
senhora quer? Esconder o que houve no Brasil, por mais dramático que
tenha sido? O que incomoda tanto? O fato de que um negro está a açoitar o
outro? Pois saiba que isso era comum.
O trabalho
de capitães do mato, por exemplo, que perseguiam escravos fugidos, era
exercido por ex-cativos, que haviam obtido ou comprado a alforria.
Muitas vezes, os senhores obrigavam, sim, negros a açoitar negros.
A galeria
em que fica o quadro é mantida pela Acrimesp (Associação dos Advogados
Criminalistas do Estado de São Paulo), que classificou o pedido de
censura, mas se comprometeu a substituir o quadro. Ora, se é assim,
então a Acrimesp vai compactuar com a… censura.
Vejam o quadro “Retirantes”, de Cândido Portinari.
Eis a
expressão da fome, da miséria, da tristeza, da falta de perspectiva e de
futuro. Será que os nordestinos deveriam se sentir ofendidos? Do mesmo
autor, “Lavrador de Café”, em que se dá destaque a um negro forte, sim,
mas com os pés descalços — e não com a altivez que pede o discurso
militante.
O discurso
estético não deve ser tomado como manifesto político e tem de ser visto
à luz do tempo em que foi produzido. Ou será que, agora, o negro na
obra de arte terá de se parecer sempre com o “Django”, de Tarantino?
Vamos mandar para a fogueira, deixem-me ver, Machado de Assis — além
claro, de Monteiro Lobato?
Segundo a
OAB, o pedido da comissão “não representa posicionamento da entidade,
uma vez não houve deliberação da diretoria ou do Conselho Seccional da
OAB-SP nesse sentido”.
O
presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, classificou, no entanto, a
preocupação de “compreensível”. Depende. O que é compreensível? O
combate ao racismo é, entre outras coisas, uma obrigação moral.
Patrulhar uma obra de arte em nome de uma causa é não apenas
incompreensível como é inaceitável. Isso é censura, o que é repudiado
pela Constituição Brasileira. E o mínimo que eu espero da OAB é que
defenda a Carta Magna do país.
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