Carlos
Siqueira, secretário-geral do PSB e ex-coordenador geral da campanha do
partido à Presidência, deixou a equipe que vai cuidar da candidatura de
Marina Silva. Sentiu-se desrespeitado. Não gostou do modo como a nova
candidata impôs nomes de sua confiança para conduzir a batalha
eleitoral. A pax celebrada entre a Rede e o PSB durou bem menos de 24
horas. Quem ler o que escrevi ainda no dia 13, pouco depois da morte de
Eduardo Campos, não estranhou o desfecho.
Jornalismo
não pode ser torcida, especialmente quando dedicado à análise e à
opinião, que é o que se faz aqui. Sim, escrevo sempre o que penso sobre
isso ou aquilo, evito a ambiguidade, esforço-me para que o leitor tenha
claro o meu ponto de vista sobre os mais diversos assuntos. Nem sempre é
fácil. Mas quem está do outro lado desta tela merece essa clareza. Acho
que isso explica, em parte, o sucesso deste blog.
Atenção,
meus caros! A opinião e a análise, no entanto, não dispensam os fatos.
Ou, em vez de análise, o que se faz é mera torcida; em vez de opinião, o
que se tem é um mero chute. Mais de uma vez, antevi ou apontei aqui
circunstâncias que não eram do meu agrado, que iam contra as minhas
convicções e o meu gosto. Dou um exemplo recente: quando vieram a
público os números da pesquisa Datafolha, eu prestei menos atenção ao
percentual de cada candidato do que ao fato de que havia melhorado a
avaliação do governo Dilma, destacando que isso pendia em favor de sua
candidatura. Chamei a atenção para esse dado contra o meu gosto. Estou
aqui para dizer o que penso, não para induzir os leitores a erro.
Por que
faço essa introdução? Se não fui o único, fui dos poucos colunistas e
comentaristas da grande imprensa a chamar a atenção de leitores (e
ouvintes) para o fato de que a relação de Marina Silva com o PSB já
havia começado no erro. Seguindo um estilo, ela não negociou nada, mas
impôs. Nem havia acontecido ainda a solenidade de confirmação de sua
candidatura, já dada, então, como certa, e seus fiéis anunciaram que os
acordos regionais que haviam sido fechados por Eduardo Campos só seriam
acatados pela líder da Rede quando ela concordasse. Da mesma sorte, sem
nenhuma negociação prévia, a nova candidata impôs nomes de sua confiança
para tocar a campanha.
Aqui no
blog, recorri a uma imagem forte: afirmei que Marina estava a dar um pé
no traseiro do PSB. Para meu escândalo, li e ouvi comentadores a
sustentar que ela estava sendo apenas coerente. Marina é, sim coerente,
mas com sua trajetória: não negocia, mas impõe. Tentou fazer isso no PT;
não conseguiu e deixou o partido. Tentou fazer isso no PV. Não
conseguiu e deixou o partido. E não se comporta de modo diferente no
PSB. Como esquecer que, no dia seguinte a seu ingresso na legenda,
atacou de modo feroz o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos poucos
aliados que Campos tinha então?
Marina
costuma despertar simpatias e adesões em razão de sua história de vida,
narrada, é bom que fique claro, com acento mítico, com as tintas
carregadas do martírio e do heroísmo. Trata-se, obviamente, de uma
construção política, tão verdadeira e tão falsa como outra qualquer. O
que me incomoda, quando estão em pauta as suas escolhas, é a facilidade
com que a imprensa abandona os fatos em favor da torcida.
Não aqui. Goste deles ou não, sempre cedo à majestade dos fatos. Sem abrir mão de deixar claro o que penso.
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