(Maria Lima, O Globo) Lideranças do PSDB e do Democratas vieram a público nesta
quinta-feira para anunciar que, assim como a presidente Dilma Rousseff, o
vice Michel Temer também não teria legitimidade para unificar o país
nesse momento de grave crise política e econômica. Em nome dos dois
partidos, os líderes Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Carlos Sampaio
(PSDB-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) defenderam que somente uma nova
eleição, através do voto popular, poderia legitimar um novo presidente
para tirar o país da crise.
—
Em resposta ao chamamento do vice-presidente Temer de que é preciso se
encontrar alguém que possa unir o País, estamos dizendo da nossa
convicção de que só se encontrará essa pessoa através de uma eleição
direta, com a legitimidade do voto popular. Só através do voto em torno
de um projeto de salvação nacional se criará o ambiente para sair dessa
grave crise — disse o líder Cássio Cunha Lima.
Os líderes disseram que a intenção é que a sociedade passe a discutir
essa possibilidade, e vão propor que os líderes da manifestação de rua
do dia 16 de agosto incluam a defesa de novas eleições na pauta de
reivindicações. Dizem que o povo é o principal ator dessa cena.— Quando o
vice Michel Temer diz que é preciso encontrar alguém que
seja capaz de unificar o País, ele está dizendo que a presidente Dilma
não pode mais fazer isso. E nós estamos propondo que só uma nova eleição
pode legitimar essa pessoa — completou o líder Carlos Sampaio.
Para os líderes da oposição, é preciso rejeitar a articulação da
cúpula peemedebista e de outros políticos, para envolver o PSDB e
Democratas em um projeto de sustentação pós-impeachment. A aposta é no
julgamento da ação de impugnação da chapa Dilma/Temer, marcada para
setembro, no TSE. Para o líder Ronaldo Caiado, as declarações de Michel
Temer, apesar de ser ele um democrata, foram a assinatura do atestado de
óbito da presidente Dilma Rousseff.
— Só existe uma pessoa capaz de unificar o país nesse momento, a
pessoa que emergir das urnas, em nova eleição direta. Hoje não tem como
acordos de cúpulas partidárias ungir alguém para tirar o país da crise
política e de enorme instabilidade na sociedade — disse Caiado.
— Não será com acordo e conchavos fechados dentro dos muros do
Congresso e da política que vamos dar legitimidade a essa pessoa. Do
contrário, estaremos apenas adiando o desdobramento de uma crise que se
avizinha, dar sobrevida a um paciente terminal — disse Cássio Cunha
Lima.
Mais cedo, em outra entrevista, Aécio Neves disse que Cássio e
Sampaio anunciariam a resposta a Temer. Ele confirmou o jantar com Renan
e outros senadores tucanos e peemedebistas na casa de Tasso
Jereissatti, na noite de terça-feira. Mas disse que, como oposição,
tiveram uma conversa civilizada, discutindo com cautela os cenários da
crise. Mas concordou que a presidente Dilma não tem mais condições de
continuar. — A presidente Dilma e o PT perderam a capacidade de
governar. Infelizmente ela não governa mais o Brasil — disse Aécio.
Em caso de impeachment e posse de Temer, dizem os tucanos, a crise
seria apenas adiada. Com a criação desse movimento para que a sociedade
discuta uma nova eleição como única alternativa para resolver a crise,
os líderes da oposição dão uma resposta pública também as sondagens
feitas por lideranças do PMDB, como o presidente do Senado, Renan
Calheiros (AL), que iniciou conversas com o presidente do PSDB, Aécio
Neves (MG), sobre um eventual acordo para apoiar um plano de salvação
econômica num possível cenário pós-impeachment.
A avaliação dos tucanos e democratas é que nos discursos de Temer,
ontem e hoje, ele se coloca desde já como a pessoa que será capaz de
fazer a transição num cenário pós-impeachment, como o ex-presidente
Itamar Franco, com o apoio da oposição. Mas dizem que a situação, hoje,
não é a mesma do impeachment de Fernando Collor, por causa da crise
política e econômica.
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