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Ailton de Freitas/ 12-04-2012 / O Globo
Na bela manhã de quinta-feira, dia 26 de abril,
o ministro do STF Gilmar Mendes saiu de casa para, finalmente, encontrar-se com
o ex-presidente Lula — com quem, até essa data, mantinha relações mais que
cordiais — no escritório do amigo e ex-ministro Nelson Jobim.
O encontro fora marcado por Jobim, a pedido de
Lula.
Mas, para Gilmar, o contexto era outro. Há
muito, desde a cirurgia de garganta de Lula, ele se sentia devedor de uma visita
ao ex-presidente.
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Quando recebeu o convite de Jobim para encontrar-se com Lula, Gilmar ficou eufórico: finalmente, iria rever o amigo.
Quando recebeu o convite de Jobim para encontrar-se com Lula, Gilmar ficou eufórico: finalmente, iria rever o amigo.
Na cabeça do ministro, o encontro seria social
e afetivo e realizado por desejos de ambos. E, para ser mais justo, mais pela
insistência de Gilmar do que de Lula.
Foi neste contexto que o encontro foi
realizado. Convém esclarecer, também, que tudo isso e o que se segue foram
reconstruídos seguindo os rastros das conversas que o ministro Gilmar Mendes
passou a ter com vários interlocutores sobre o ocorrido.
Coincidentemente, Gilmar, naquele mesmo dia,
tinha marcado um encontro com o presidente dos Democratas, o senador Agripino
Maia.
Maia contaria aos correlegionários que Gilmar
chegou ao encontro esbaforido, soltando fogo pelas ventas.
A história espalhou-se logo pelos Três Poderes.
Formalmente, Gilmar relatou ao presidente do Supremo, Ayres de Britto. Mas
contou ao amigo Sigmaringa Seixas e este, supõe-se, a Dilma.
Pelo contexto relatado acima percebe-se,
claramente, que a ação de Lula era totalmente dispensável.
Primeiro, a de ter usado Jobim como
intermediário.
Segundo erro, ao tentar sensibilizar Gilmar
para assumir uma posição técnica, não política.
Se o ex-secretário da presidência de Lula e
hoje funcionário do seu Instituto, o mineiro Luis Dulci, gostasse de trabalhar,
teria preparado um resumo para o ex-presidente sobre as decisões mais
importantes tomadas por Gilmar a favor do PT: rejeição da denúncia contra
Gushiken: voto a favor de Palloci e recusa de denúncia contra Mercadante, entre
outros.
Em todos esses episódios, os chamados
"ministros amigos" foram todos votos contra o PT.
Mercadante, inclusive, nem poderia ter sido
eleito senador e, muito menos, estar hoje no ministério da Educação, se tivesse
dependido do voto de Sepúlveda Pertence.
Apesar de todas essas posições de Gilmar terem sido eminentemente técnicas, pode se dizer que houve também reciprocidade de Lula no trato com o ministro.
Apesar de todas essas posições de Gilmar terem sido eminentemente técnicas, pode se dizer que houve também reciprocidade de Lula no trato com o ministro.
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Por que Lula teria agido assim?
Prevalece a máxima do “perdoa, mas não
esquece”. Lula não se esquece de que, por espionagem a Gilmar Mendes, numa
conversa com o próprio Demóstenes, fora obrigado a demitir Paulo Lacerda da
Abin.
Lula sentiu-se humilhado, já que a decisão foi
resultado de uma delicada conversa sua, na época, com Gilmar, mediada pelo mesmo
Jobim.
No encontro fatídico de agora, Lula voltou ao
tema de raspão:
— Será que aquele grampo não foi feito pelo
próprio Cachoeira ou mesmo Demóstenes ou alguém da turma deles?
Como, a essa altura, a conversa já não estava
mais sendo republicana, Gilmar tirou a toga:
— Que é isso, Lula!
A prova de que seu governo era uma bagunça está
no fato de que o homem de confiança da Abin, o homem de Paulo Lacerda na
operação “Satiagraha”, era o Dadá!
Você sabia disso?
A coisa esquentou mesmo quando Lula, diante da
declaração de Gilmar de que nada tinha a temer da CPI, perguntou-lhe com um
tapinha nas costas:
— E a história de Berlim?
Quem diz que tapinha não dói? Doeu mais que a pergunta. O revide foi mais forte:
— E a história de Berlim?
Quem diz que tapinha não dói? Doeu mais que a pergunta. O revide foi mais forte:
— Lula, você continua, como sempre,
desinformado! Vá em frente!
Foi aí que Gilmar teve a prova definitiva de
que tinha sido escolhido pelo PT como símbolo da tentativa de desmoralizar o
Judiciário.
O que tem deixado Gilmar Mendes mais indignado
é que se considera vítima de um bem articulado plano de difamação que corre não
apenas pelas mídias sociais, mas no mais antigo e eficaz meio de comunicação: o
terrível boca a boca.
A conversa começou republicana, com Gilmar
lembrando a Lula da necessidade de se preencher as próximas duas vagas do
Supremo com critérios bem técnicos e não políticos.
É que se suspeita de uma manobra para o
mensalão ser votado só depois da nomeação dos novos ministros.
Gilmar defende o julgamento agora para evitar a
confusão e suspeição em que se revestiriam essas nomeações, até porque, sendo em
agosto, o tribunal não estaria desfalcado de dois ministros que conhecem bem a
matéria como os demais.
O assunto CPI começou quando Lula disse que a
tinha sob comando e, numa prova de que estava entre amigos, chegou até a
confidenciar ter acertado nomeando Odair Cunha ( PT -- MG) como relator:
— O Vaccarezza não seria uma boa solução.
O seu poder de articulação é tão grande, que
ele acabou se envolvendo com parlamentares comprometidos com esses
esquemas.
*Trechos do texto de Jorge
Bastos Moreno em O Globo ...
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