Gabriel Tarde
1. Gabriel Tarde (1843-1904) é o pai da
microssociologia e da micropolítica. Suas ideias anteciparam em 100 anos a
lógica da formação de opinião pública na sociedade (eletrônica) da informação.
Ele ensina que a opinião pública é um processo construído por fluxos de
opinamento individuais, na base, que se fortalecem nos contatos de cada um com
alguém que, para este, a opinião é importante.
2. Os meios de comunicação, políticos,
intelectuais, artistas, líderes locais, propaganda, etc., distribuem
informações. As pessoas acolhem uma e outra e as testam com a opinião de quem
respeitam. Uma vez coincidente com sua opinião, ele/a firma convicção e repassa
boca a boca. Como a informação distribuída é geral, quando muitas pessoas
priorizam, testam e repassam, muitos fluxos de opinamento ocorrem ao mesmo
tempo, em pontos distintos. São esses fluxos que, em um prazo -maior ou menor-,
podem formar opinião.
3. A TV introduziu um elemento acelerador nesse
processo. Ela não forma opinião, pois seu foco é a audiência, que é opinião
formada. Mas quando repete um mesmo fato –como na cobertura de escândalos ou
grandes crimes- ela acelera estes fluxos e, portanto, acelera a formação de
opinião. A TV é um acelerador. A formação de opinião depende dos fluxos na base
da sociedade.
4. Gabriel Tarde destaca três
personagens-símbolo: “o Louco, o Idiota e o Sonâmbulo”. O “Louco” é a pessoa que
inicia ou estimula um fluxo de opinião. O “Sonâmbulo” é aquele que simplesmente
repassa um fluxo recebido. O “Idiota” é quem interrompe um fluxo que chega a
ele. Quando uma informação inicia seu fluxo, seus prazos são variáveis e
inclusive pode desaparecer antes de formar opinião pública. Uma pesquisa de
opinião pode destacar um fluxo que desaparecerá em breve ou um fluxo de baixa
intensidade hoje, que poderá ser de alta intensidade amanhã.
5. Um candidato com baixo índice em pesquisas
promove uma blitz para aparecer nos meios de comunicação. E se frustra quando a
pesquisa não mudou sua intenção de voto. Deveria conter sua ansiedade e pensar
que a informação distribuída e –mesmo que chegue na prioridade de muitas
pessoas- o tempo para que o fluxo vá se transformando em opinião, nunca é
instantâneo. Ele deve pensar menos em tempo e espaço que ocupou na imprensa e
mais na informação que pode ativar e intensificar fluxos de opinamento.
6. Na pré-campanha, a proporção de “Idiotas”
tardianos, ou seja, aqueles que não dão nenhuma importância à eleição vindoura é
muito grande. A dos “Loucos” depende de seu alcance de influência direta. E a
dos “Sonâmbulos” é muito pequena. Quando começa a campanha e, em especial quando
a TV entra, a proporção de “Idiotas” e “Sonâmbulos” se inverte. Mas, assim
mesmo, a intensidade do fluxo dependerá da informação que o candidato conseguirá
distribuir.
7. Numa pesquisa em eleição com reeleição, o
nome do governante-candidato na pré-campanha faz memória a uma proporção bem
maior de “Sonâmbulos”, pois aquele está presente na mídia. No caso, os
“Sonâmbulos” ainda se misturam com os “Idiotas”. Mas o ambiente de fluxos
eleitorais ainda não está ativado pela presença majoritária de “Idiotas” em
relação ao processo político. Quando a campanha começa e há a inversão entre
“Idiotas e Sonâmbulos”, e os “Loucos” de apoio a uma candidatura crescem, só aí
então se poderá avaliar a força efetiva de cada candidato.
8. Mas tudo isso se pode antecipar em pesquisas
que priorizem os cenários futuros e busquem identificar os “Loucos” potenciais e
de que forma se entrará no crescimento dos “Sonâmbulos”, despertando interesse
para que repassem as informações que cheguem a eles a favor do candidato.
9. A Internet –ainda sem a força da TV- é
também um acelerador onde a proporção de “Loucos” que a frequenta é muito maior
que na TV.
* Cesar Maia. ....
Nenhum comentário:
Postar um comentário