O endividamento das famílias já se
encontra no limite máximo
As autoridades imaginaram que, ao aumentar o
volume de crédito baixando as taxas de juros, haveria uma redução da
inadimplência e uma queda do endividamento, que levariam ao aumento da demanda
doméstica no segundo semestre.
Quando se observa que as duas primeiras
previsões não aconteceram, temos o direito de duvidar de que a terceira se
apresente na segunda parte do ano, uma vez que a maior alta das rendas aconteceu
em janeiro, com o reajuste de 14% do salário mínimo.
O que aconteceu é que o índice de
inadimplência aumentou 6,2% entre abril e maio, e na cidade de São Paulo o
porcentual de famílias endividadas passou de 45,7%, em maio do ano passado, para
53,24%, em maio de 2012.
Fato que não devemos estranhar, pois a soma da
maior oferta de crédito com a redução do seu custo é a receita ideal para
aumentar o endividamento, ainda mais quando, ao mesmo tempo, o salário mínimo é
aumentado.
Não se pode esquecer ainda de que estamos
assistindo a um forte crescimento dos empréstimos habitacionais.
Mesmo que as prestações sejam modestas, elevam
fortemente o comprometimento das famílias, que, ao dispor da sua unidade de
habitação, se veem na obrigação de realizar novos gastos para equipar a nova
casa.
O erro, certamente, foi o de oferecer todas
essas facilidades ao mesmo tempo, sem levar em conta que as operações de crédito
sob todas as formas e no seu conjunto podem acusar uma queda, mas são
escandalosamente caras quando se trata de crédito pessoal.
Pode-se dizer que a taxa média de juros ao
consumidor é a menor desde 1995.
Já a taxa para cartão de crédito, que
representa 77,2% da dívida das famílias, é de 10,69% ao mês ou 238,67% ao ano,
sendo a operação de menor custo a de financiamento de automóveis, com 24,6% ao
ano, o que, aliás, torna preferencial a compra de automóveis.
Admite-se como razoável um endividamento
equivalente a 30% da renda mensal, mas em São Paulo chega em média a 42,95%. As
famílias com um endividamento desse porte, terão, primeiro, a tentação de
recorrer às operações com o custo mais elevado, o que aumentará seu
endividamento, e chegarão a um momento em que, com 50% de sua renda mensal
comprometida, não terão mais capacidade de compra, ao contrário do que espera o
governo com sua previsão de aumento da demanda no segundo semestre.
Isso explica a cautela das empresas para
aumentar sua capacidade de produção.
*Editorial do Jornal O Estado e São
Paulo ...
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