quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Bate em todos, não bate em ninguém...

Carlos Brickmann –
Há muito tempo, numa conversa em off (absolutamente sigilosa) um político importante previu que certa investigação policial não daria em nada. Não pode dar, explicou: atinge gente importante de todos os partidos. Explosiva demais.
A CPI sobre Carlinhos Cachoeira está morrendo por este motivo: o grupo do bicheiro movimentou R$ 84 bilhões, fartamente distribuídos sem levar em conta as legendas – apenas os benefícios que seria possível obter com as transações. O número foi citado por Lauro Jardim (http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/) e é impressionante. É uma quantia imensa, é dinheiro saindo pelo ladrão.
Esqueça essa bobagem de prorrogação da CPI: estamos no fim do ano e as atenções se voltam exclusivamente ao Mensalão e ao segundo turno. Terminados esses eventos, ninguém vai voltar a trabalhar no Congresso, não. Haverá as festas de fim de ano, a posse dos novos prefeitos, o Carnaval, a Semana Santa, e só então Senado e Câmara voltam às atividades normais (que também já não são lá essas coisas). A CPI do Cachoeira será um tema do passado – pura cascata.
No máximo, se os governistas da CPI estiverem dispostos a trabalhar duro, conseguirão pedir o indiciamento do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo (algo para contrapor ao Mensalão, tipo “eu sou, mas quem não é?”). E ponto final nas indagações e pesquisas, que ninguém é de ferro. Aliás, seria interessante verificar quantos dos sigilos abertos por ordem da CPI foram analisados.
E em 2014 teremos Copa. Quem vai se preocupar com quem levou bola?
É vendaval
O Tribunal de Contas da União comprou 150 chaveiros de cristal (custo total: R$ 2.700,00), gravados com o logotipo da 22ª Assembléia Geral da Organização Latino-Americana e do Caribe de Entidades Fiscalizadoras Superiores, que se realizará em Gramado. Presentinho para os participantes, coisa de anfitriões bem-educados.
E é melhor ainda ser bem-educado com o dinheiro dos outros.
Os aliados
PT e PMDB são aliados em quase todo o país. Na área federal são irmãos siameses. Mas o secretário nacional de Comunicação do PT, André Vargas, e o senador Roberto Requião, do PMDB, ambos paranaenses, não se toleram (parece que ambos têm razão). E tiveram um duelo pelo Twitter.
Requião: “Diga alguma coisa inteligente e depois volte ao normal”. Vargas: “Você sabe que sem o apoio do PT não seria nem governador pela segunda vez e muito menos senador e fica desqualificando a aliança”. Requião: “O que vi de parte da direção do PT foi trairagem, não da base. Pagarão o preço, e não será barato.”
Sem preocupações: como prova o Mensalão, pagar o preço não é problema.
Dilma e Carminha
A presidente Dilma Rousseff preferiu evitar o confronto de popularidade com a novela Avenida Brasil: trocou de sexta para sábado, depois do último capítulo, o comício do qual participará com Fernando Haddad, candidato à Prefeitura paulistana pelo PT. O comício está marcado para o ginásio do Canindé, da Portuguesa de Desportos, e a ele devem comparecer três ministros e o ex-presidente Lula.
Mim contra mim
O Governo paulista mandou abrir inquérito sobre as ameaças ao jornalista André Caramante, da “Folha de S.Paulo”, por ter divulgado teses expostas pelo coronel Telhada, candidato a vereador pelo PSDB. Telhada, ex-comandante da Rota, a letal tropa de choque da PM paulista, publicou no Facebook a foto de dois jovens negros; sem provas, afirmou que eram “suspeitos” e acusou-os de responsabilidade no ataque a uma base da PM. Tão logo Caramante publicou sua matéria, passou a ser ameaçado. Telhada dizia que Caramante “é notório defensor de bandidos”. Uma das frases do Facebook do candidato (assinada por outra pessoa): “Quem defende bandido, bandido é. Bala nesses safados!” Caramante teve de se esconder.
Mas o problema é outro: um ex-agente do Governo, tão próximo ao governador Alckmin que se elegeu por seu partido, causou as ameaças; não sofreu nem crítica de Alckmin ao chamar o repórter de “notório defensor de bandidos”. Que moral tem o Governo paulista para investigar?
Silêncio de ouro
O chefe da Casa Civil do Governo paulista, Sidney Beraldo, tem boa fama. Mas declarar, como o fez, que o coronel Telhada “foi infeliz em suas declarações” pega mal – é uma frase infeliz.
Há ocasiões em que é melhor calar-se.
Não é isso
Não se preocupe com o lançamento da candidatura do governador Sérgio Cabral – aquele que, ao lado de Fernando Cavendish, da Delta, tirou fotos dançando com guardanapo na cabeça, enquanto suas esposas mostravam a sola vermelha do sapato para provar que era caro – a vice-presidente da República. Não é isso que ele quer (aliás, a foto da Turma do Guardanapo mataria qualquer campanha). Ele gostaria de ser ministro de Dilma. Com isso, abriria espaço para seu vice, Pezão (nome eleitoral de Luiz Fernando de Souza), que poderia pavimentar uma candidatura forte à reeleição; e garantiria uma posição nacional.
Daqui a pouco este país terá uns 60 ministérios, só para pagar a conta das eleições.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde....

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